domingo, 6 de março de 2016

A quem interessa o feminismo culturalista?

O feminismo culturalista hoje reinante é de interesse de quem?

A questão cultural é importante e faz parte das lutas femininas e, mais especificamente, das mulheres trabalhadoras. O feminismo culturalista compartilha não somente os limites do feminismo em geral, como agrega valor ideológico ao mesmo. O culturalismo é um mau da sociedade capitalista "pós-moderna". O feminismo culturalista é apenas um remendo mal feito desse mau. Os problemas do feminismo culturalista, na sua parte culturalista, pode ser destacado e dividido em dois principais:

a. a cultura passa a ser o centro da ação feminina, isolado do mundo circundante. O feminismo em si tem a tendência de isolar as relações entre os sexos e esse "novo feminismo" aprofunda isso tornando essa relação meramente cultural. E transforma o cultural em essencial. Isso começou com as discussões sobre "gênero" e se aprofunda mais recentemente com as supostas "radicais", radicais sem raízes, no fundo, extremistas narcisistas. Isso é produto da "cultura do narcisismo" (Lasch) e do essencialismo cultural (Young). O social é expulso pelo cultural e nesse campo, a ideologia reina totalmente. Sempre foi papel da ideologia autonomizar as ideias.

b. a história da cultura é esquecida. A sua produção e sua lógica de produção é abandonada e naturalizada. A cultura passa a ser produto dos homens machistas, por serem homens (e naturalmente e essencialmente "machistas"*). A cultura é produto dos homens machistas por causa da essência masculina (e, contraditoriamente, afirmam que não existem "essências" ou "essências femininas"). Essa explicação simplista e sem base real, tão semelhante ao fascismo**, explicado por Young, mostra os limites do culturalismo. Uma outra vertente aponta para uma cultura superior e acima dos indivíduos, classes, épocas, que teria produzido a superioridade masculina. A história é esquecida, a formação das sociedades de classes é esquecida, o capitalismo é esquecido. Só restam homens e mulheres e fora da história. Uma terceira vertente coloca que a cultura e a razão são tipicamente masculinos e servem para a dominação dos homens. Essa ideia extravagante (e algumas se inspiram na balela da existência de dois hemisférios cerebrais, um sendo masculino e racional, e outro sendo feminino e sentimental). 

Essa última vertente fornece a imagem do feminismo culturalista em sua face mais interessante. A diferença entre homens e mulheres não está mais no sexo (e por isso a mudança de palavra, para "gênero"), ou seja, nos órgãos sexuais, e sim no cérebro, saiu da biologia e foi para a cultura e, nessa vertente, para o cérebro emocional. Isso explicaria as razões da histeria de algumas feministas culturalistas, as radicais sem raízes, e sua adorável simplicidade e falta de cultura, teoria, aprofundamento em qualquer coisa. Basta sua emoção cerebral, reduzindo a mulher a um ser irracional, ao gosto do pós-modernismo e aos estereótipos femininos que antes eram criticados pelas feministas. Contradições e mais contradições. 

Assim, o feminismo culturalista produz desde a estupidez de querer uma "epistemologia feminista" (!!), que significa elevar ao mais alto grau uma ideologia (a feminista) até a parvoíce de recusar a reflexão, a pesquisa, a teoria, o saber. A loucura feminista deve ser substituída pela razão humana, único meio de libertação das mulheres e homens trabalhadores. 

A quem interessa o feminismo culturalista? Interessa aqueles que querem trocar as mulheres bibelôs por bibelôs mulheres, mudar para nada mudar. Também é interesse das feministas acadêmicas que querem disputar espaços e cargos (igual uma mulher do PDT falou ontem na TV, o negócio é cargos no poder, mais mulheres - como ela, pois não é para as mulheres trabalhadoras - no poder, o que tem como consequência menos poder para as mulheres trabalhadoras e mais legitimidade para o poder que produz e reproduz a exploração e opressão dos trabalhadores e trabalhadoras) e o feminismo é sua moeda de troca. Esses dois interesses, por sua vez, se casam perfeitamente com os interesses da classe dominante, que explora os trabalhadores e as trabalhadoras, as famílias trabalhadoras. Além da prostituição feminina, o capitalismo conseguiu criar a prostituição feminista.




* Em breve vamos traduzir e publicar o texto de Stella Anderson sobre "machismo".
** Vamos postar um texto do João Bernardo sobre isso.

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